Fonte: Zohra Bensemra/Reuters
Enquanto no nosso país, a campanha para as presidenciais se aproxima do seu glorioso apogeu, por entre gritos de "vem aí o fascismo" e "não deixem a direita destruir a nossa democracia", um bocadinho mais ali além têm-se vivido dias onde, à falta de melhor designação, há uma luta real por aquilo que alguns consideram sera defesa dos seus direitos e a expulsão de um regime que não os satisfazia.
Falo da Tunísia e daquilo que já é considerada como a primeira revolução com uma real capacidade de "multiplicação" para outros países da região (nomeadamente o Egipto de Mubarak). Depois dos tumultos das passadas semanas, o país encontra-se agora sob a alçada de um Governo de União Nacional enquanto se preparam eleições legislativas e presidenciais, com o Exército a manter um grau mínimo de segurança nas ruas.
Curioso que, atendendo à importância do Mediterrâneo e dos países da região para Portugal, não se percam duas linhas de cada entrevista com qualquer dos "presidenciáveis", não obstante o papel claro do Presidente da República enquanto representante de Portugal no estrangeiro e a importância da sua opinião em matéria internacional.
De qualquer forma, se a política internacional já nem é tema para legislativas, porque é que o haveria de ser para presidenciais...A trabalheira que isso dava e ninguém ligava nenhuma?
Voltando à Tunísia, é interessante ver duas perspectivas distintas sobre o mesmo fenómeno. Por um lado, Roger Cohen no New York Times, com um "The Arab Gdansk", onde exorta os EUA e a UE para um esforço no apoio às forças democráticas na Tunísia, embora reconheça a dificuldade que durante este período conturbado, existe em identificar exactamente quem são esses elementos:
America and its allies, especially France, should do all they can to ensure this bravery does not end in some new iteration of despotism. Anything less than prompt free and fair elections organized by a national unity government should be rebuffed. What the Arab world needs above all is accountability, transparency and modernity in its governance, of the kind that encourages personal responsibility.
Por outro lado, Anne Applebaum apresenta uma análise mais cautelosa dos acontecimentos tunisinos, com "Tunisia's Jasmine Revolution might not install a democracy":
While watching Tunisia's "Jasmine Revolution" unfold, remember this: Street demonstrations can unexpectedly bring extremists into power, as they did in Iran in 1979. They can create unrealistic expectations and then unravel, as did the Orange Revolution that began in Ukraine in 2004. And they can end badly, with reactionary violence, like the 1989 protests in Tiananmen Square.
By contrast, the most successful transitions to democracy are often undramatic. Consider Spain, after the death of Franco; Chile, after the resignation of Pinochet; Poland, which negotiated its way out of communism; all of these democratic transitions dragged on, created few spectacular photographs - and ultimately led to stable political systems.
São duas perspectivas particularmente diferenciadas acerca de um fenómeno que, embora esteja a ter alguma cobertura por parte da nossa comunicação social, merecia mais atenção num período de campanha eleitoral...
No blog Margens de Erro, de Pedro Magalhães, encontro este pequeno tesouro:
Pois é.
Afinal, não é uma embirração só minha, o gosto que muita gente que saltita de conferência em conferência tem em dissertar 20min sobre algo que deveria ter feito sob a forma de uma pergunta. Assisti a vários casos, incluindo na minha Faculdade e pude perceber que parece ser um hábito que se cria nas próprias aulas quando, durante alguma exposição por parte do Professor, surge a inevitável interrupção de "Oh Professor, mas isso não é o mesmo que dizer [inserir verborreia de 10min que não leva a lado nenhum e é exactamente aquilo que acabou de ser dito]."
Enfim, infelizmente a vida não é um sketch de Monty Python, senão haveria sempre alguém vestido de cavaleiro e com uma galinha de borracha para calar essas luminárias.
E ao 3º dia, Alegre oferece-se para interromper a camp...Não, afinal oferece-se para apoiar Cavaco Silva se este achar por bem interromper a campanha para dar inicio a uma espécie de European Tour para acalmar os espíritos mais nervosos.
Genial, diga-se de passagem. Mas não me parece suficiente, longe disso...
O que deveria acontecer era a campanha ser suspensa por completo e, à semelhança da Tour dos Big Four (entenda-se, para os mais distraídos, Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax), teríamos Cavaco, Alegre, Nobre e Moura (o José Manuel Coelho teria que ser um roadie) num verdadeiro périplo patriótico pelas capitais europeias a canter "We're not gonna take it" (sim, é dos Twisted Sister mas vá lá, work with me).
Um pouco mais a sério, o que é que se passará com Alegre para largar este género de atoardas? Achará realmente que este tipo de sugestões lhe darão algum ar de estadista? Ou, ainda mais absurdo, que Cavaco poderia concordar? Quem é que lhe dá estas ideias?!
Pois...Realmente é isto, mais coisa menos coisa.
...for who is to say that it won't become a dragon?
Sim, talvez seja apenas um pretexto para iniciar um post com esta frase, mas achei esta notícia do WSJ interessante:
A sabedoria convencional diz-nos que o gap militar e tecnológico norte-americano dificilmente será alcançado nos tempos mais próximos pela China, considerando-se esta o seu adversário mais provável na eventualidade de um hipotético confronto. No entanto, são inegáveis os avanços e esforços levados a cabo pela RPC para se dotar de um considerável leque de opções militares que podem vir a criar alguns atritos mais ou menos sérios na região do Pacífico não só aos EUA mas também a países como o Japão e a Índia.
Para quem se interessa por estas questões esperam-se tempos um pouco incertos em relação ao equilibrio de forças em certas regiões do Globo, mas serão sem dúvida, tempos bastante interessantes.
O i faz hoje uma entrevista ao candidato presidencial Fernando Nobre que tem algum interesse isto porque, goste-se ou não, é o único candidato que ainda tem algum interesse nesta campanha.
Provavelmente não será isso que lhe vai garantir um bom resultado no final deste mês, mas ainda assim, é talvez o candidato cujo resultado possa ser aguardado com mais antecipação, para que se possa ver até que ponto é que a vertente "não-política" é valorizada. Numa coisa não deixo de dar razão a Fernando Nobre, somos constantemente bombardeados com a crescente insatisfação da sociedade civil face à sua classe política, chamamos-lhes todos os nomes, são isto e aquilo, bandidos e gatunos.
No entanto, surgindo um candidato que, com todas as reservas que é possível fazer (e o próprio finalmente reconhece que anda a fazer política há muito tempo, só não o tem feito através de partidos), pode-lhe ser atribuida a categoria de "outsider" e a primeira coisa a fazer é malhar na sua "inexperiência" para exercer o cargo ou, pior ainda, o célebre argumento de que foi empurrado por Mário Soares para chatear o Manuel Alegre 2010/2011.
Ainda assim, há coisas que chateiam um pouco em Fernando Nobre (como em Alegre, Cavaco, Lopes ou Moura). Logo à partida a forma como invoca o seu passado e a arrogância como o faz. Isto notou-se especialmente no primeiro debate com Francisco Lopes e no célebre episódio das "crianças com fome", sendo que parece ter havido um maior controlo por parte de Nobre à medida que se foi dando conta do "backlash" que foi tendo na imprensa e na blogosfera.
Por outro lado há uma certa indefinição em relação àquilo que o próprio poderá e deverá fazer enquanto PR. Isto relaciona-se um pouco com a sua alegada "inexperiência" face ao papel e poderes de um Presidente. Na entrevista, Nobre considera que um PR deve ser um "árbitro" que gere tensões mas, por outro lado, deve ser também um "decisor político" (Lembrei-me do famoso "Decider" de G. W. Bush). Como conjuga estas duas atribuições, fica ao critério dos leitores.
Finalmente, a forma como não sendo um político "partidário" ainda recorre à mesmas tácticas quando fala nos carros que vão buscar assessores de Ministros ao Cartaxo e que, consequentemente, "pelo país todos há carros do Estado a irem buscar assessores a casa". Sendo isto uma acusação relativamente clara e com alguma gravidade, os casos deveriam ser enumerados um por um. Que o Estado é despesista já nós sabemos e somos relembrados desse triste facto todos os dias, mas a um candidato presidencial não fica bem este género de insinuações (como bem se viu com Defensor Moura e as críticas a Cavaco Silva, que Nobre elegantemente contorna).
Enfim, são apenas alguns comentários que me surgiram com a entrevista. Confesso-me totalmente descrente nestas eleições presidenciais. Teria dois candidatos em que gostaria de votar mas que têm sido peritos em fazer-me perder a vontade, enquanto eleitor.
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