Emaranhados que estamos com as nossas próprias agruras e preocupações, as notícias que "contem" tendem a começar nos mais recentes números do desemprego, passam pela mais recente declarção de "descrença" por parte dos "mercados" e terminam com a mais recente frase imbecil de quem presentemente ocupa o Palácio de Belém e/ou São Bento.
Os acontecimentos na Síria têm dado conta da dificuldade que a comunidade internacional representada em organizações como a NATO ou a ONU têm para fazer face às consequências imprevistas das convulsões que se têm feito sentir no região a que se convencionou chamar o "Médio-Oriente", desde que as mesmas tiveram inicio na Tunísia.
No caso da Síria, a contestação tem tido uma resposta (no mínimo) musculada por parte do regime de Assad, que terá originado qualquer coisa como 7600 vítimas desde o inicio dos movimentos de revolta, em Março do ano passado.
Esta semana, dois jornalistas (um americano e um francês) foram mortos no bairro de Baba Amr, na cidade de Homs, considerado pelas forças sírias como um dos focos da insurreição e, consequentemente, tem sido alvo de sucessivas barragens de artilharia por parte de elementos do Exército sírio. Alguns dos comentários de um dos jornalistas, Marie Colvin, são particularmente elucidativos acerca da realidade no terreno:
Os excertos fazem parte do último registo escrito de Marie Colvin para o Sunday Times inglês.
Há uma considerável relutância num eventual envolvimento militar por parte de forças estrangeiras da NATO ou do envio de qualquer tipo de força multinacional no âmbito da ONU. Neste último caso, a relutância prende-se essencialmente com a necessidade de uma resolução do Conselho de Segurança, algo que choca directamente com o apoio que tanto a Rússia como a China (em menor grau) têm vindo a garantir a Assad.
Por outro lado, no caso da NATO, parece-me que a Aliança ainda tenta digerir a sua recente intervenção na Líbia cujos resultados não são ainda claros para que uma segunda possa ser levada a cabo noutro país da região. Logo à partida, os moldes da intervenção dificilmente poderiam ser os mesmos, já que a imposição de zonas de restrição aéreas dificilmente conseguiriam demover as forças de Assad de atenuarem as medidas repressivas que têm vindo a ser seguidas.
No fundo, resta aquilo que dá muito mais trabalho, muito menos cabeçalhos de jornal e que leva muitas pessoas a interrogarem-se sobre a aparente apatia da comunidade internacional, ou seja, a boa velha diplomacia de bastidores, de idas e vindas de "enviados especiais", de modo a conseguir um acordo que assegure um cessar fogo e um aliviamento do sofrimento das populações, ao mesmo tempo que garanta à oposição síria o mínimo do que pretendem, a saber, o afastamento de Assad dos destinos do país.
PS - O principal motivo que me levou a escrever algumas linhas sobre isto tem a ver com este artigo. Quando o li, confesso que me apeteceu postar qualquer coisa desagradável, mas acabei por achar que não valia a pena o esforço...
PPS - Na foto, Rémi Ochlik, o fotojornalista que foi morto com Marie Colvin, esta semana. Tirada daqui
Uns poderão ver o episódio como o prenúncio (o mais recente) de algo potencialmente desastroso para a região, enquanto outros não lhe dão mais importância do que uma muito pequena demonstração de "força" por parte de um regime que se vê diariamente a perder aliados e cada vez mais posto de parte pela "comunidade" internacional.
Outros ainda como algo entre estes dois pólos. E já agora, como uma boa oportunidade para um pequeno momento de "nerd humour":
E porque nunca nos devemos esquecer da qualidade do nosso debate político, cá está Ruben de Carvalho para nos lembrar como é que se faz:
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